sábado, 2 de junho de 2007

A Caverna de Platão e Os Dias Atuais


Nos nossos dias muitas são as cavernas em que nos envolvemos, pensamos ser a realidade, e muitas vezes ficamos presos vendo sombras e vivendo como se estas sombras fossem a realidade. Mesmo que um feixe de luz entre, muitas vezes, com medo ou preocupados em perder, ou deixar para trás nossa vidinha cômoda não seguimos ou perseguimos esta luz, não nos interessamos por ela. A televisão, principalmente brasileira, pode ser considerada uma perigosa e preocupante sombra, que muitas vezes afasta o povo brasileiro da realidade da vida verdadeira do sol. Com suas imagens sempre tão coloridas, com sombras sempre tão belas, e cheirosas, ( parece que se diz bombadas) cria em sua tela uma imagem de realidade ora dolorosa ora feliz e assim milhares de pessoas deixam de enfrentar seus problemas, sua realidade muitas vezes mais dolorosa ou mais feliz que aquela que as envolve dia após dia no mesmo horário e no mesmo lugar .

O grupo de rock brasileiro, Titãs, fez há algum tempo atrás uma música sobre a Televisão que é uma interessante reflexão sobre o mito da caverna moderno.

De: Arnaldo Antunes/Marcelo Fromer/Tony Belloto

A televisão

A Televisão me deixou burro muito burro de mais,
agora todas as coisas que eu penso me parecem iguais
O sorvete me deixou gripado pelo resto da vida
E agora toda noite quando deito é boa noite querida

O Cride, fala pra rnãe

Que eu nunca li num livro que um espirro fosse um virus
sem cura
Vê se me entende pelo menos
uma vez criatura!

O Cride, fala pra mãe!

A mãe diz pra eu fazer alguma
coisa, mas eu não faço nada
A luz do sol me incomoda, então
deixo a cortina fechada

E que a televisão me deixou
burro, muito burro demais
E agora vivo dentro dessa
jaula junto dos animais

O Cride, fala pra mãe

Que tudo que a antena captar
meu coração captura
Vê se me entende pelo menos
urna vez, criatura.

O Cride, fala pra mãe!

A mãe diz pra eu fazer alguma
coisa, mas eu não faço nada
A luz do sol me incomoda, então
deixo a cortina fechada
E que a televisão me deixou


burro, muito burro demais
E agora vivo dentro dessa
jaula junto dos animais

O Cride, fala pra mãe

Que tudo que a antena captar
meu coração captura
Vê se me entende pelo menos
uma vez, criatura.

O Cride, fala pra mãe!

Eu não faço nada
Deixo a cortina fechada
Muito burro demais
Muito burro demais



O curta metragem gaucho "O dia que Dorival enfrentou a guarda" é um ótimo exemplo, também, do que acontece quando não se pensa as coisas criticamente. Em uma caserna, uma ordem era seguida fielmente por todos os "guardas" de uma prisão sem que ninguém soubesse, ou questionasse a razão de ser desta ordem - Dorival o preso não podia tomar banho - do soldado raso ao capitão todos proibiram a partir de uma ordem que ninguém sabia muito bem explicar o porquê. Finalmente fica-se sabendo que quem dera esta ordem fora o carcereiro que era o menos graduado de todos, simplesmente porque este não gostava de negros, e o preso era negro.



Na Atenas democrática em que viveu Sócrates e Platão alguns intelectuais chamados de sofistas, que chamaríamos hoje de marketeiros, preparavam ou ensinavam aos jovens da aristocracia ateniense a preparar belos discursos para convencer, persuadir os cidadãos de Atenas para aquilo que desejavam fazer, mesmo que estes discursos nada tinham de verdade. Bem preparados os jovens aristocratas na arte da retórica, da oratória eram eloqüentes e convenciam os cidadãos da assembléia que votavam nas causas postas em disputa por seus interesses.

Assim teria sido a assembléia que condenou o filósofo Sócrates. Denunciado por ser um subversivo e corruptor dos jovens por fazer discursos elogiando a filosofia e criticando de forma negativa a forma como os jovens eram preparados para a guerra e não para a sabedoria, Sócrates fez um discurso que não era belo, segundo ele próprio, mas que trazia a verdade. No entanto, aqueles que denunciaram Sócrates eram sofistas e teriam feito um belo discurso. Por poucos votos no ano de 399 ª C. pela assembléia de heliastas, isto é, juízes que se reuniam no final da tarde o homem mais sábio da Grécia seria condenado ou à morte ou a deixar sua cidade. Como para os gregos de uma forma geral primeiro estava a cidadania depois o indivíduo Sócrates preferiu morrer tomando cicuta. Além do mais, diria ele, se deixasse a cidade negaria todos os meus discursos: - considerando-me culpado, o que não sou, morro, condenado não pela verdade mas pelos belos discursos, que era o que queriam os cidadão que o condenaram.

Platão, que deveria estar presente nesse julgamento, ficou horrorizado com a pouca sabedoria dos homens de Atenas, os não filósofos e passou a desconfiar da democracia, que coloca nas mãos de pessoas que não têm sabedoria suficiente para discernir sobre o que é melhor para sua cidade, afinal envia para morte o homem mais sábio da Grécia, aquele que poderia conduzir Atenas para o mais elevado patamar entre as cidades gregas.

Não é a toa, que, em sua alegoria da caverna que faz parte do livro VII da obra República, a obra de política de Platão a personagem que sai da caverna, isto é, aquele que adquiriu sabedoria sobra a verdade, Sócrates, quando volta para os seus, no sentido de ilumina-los, conduzi-los ao conhecimento, é apedrejado e morre.


Bibliografia

PLATÃO diálogos, seleção de textos de José Américo Motta Pessanha, tradução e notas de José Cavalcante de Souza; 4ª ed., São Paulo : Nova Cultural [coleção pensadores], 1987.
PLATÃO, A República. Introdução e notas de Robert Baccou e tradução de J. Guinsburg; 2ª ed., São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973.

5 comentários:

oi disse...

esta alegoria é interessante

Unknown disse...

super interessante essa analogia que faz o autor em relaçao do mito da caverna a nossa sociedade,pois sair do mundo sencivel, dos sentidos, das sensaçoes e ir para o mundo real é importante que deve ser encarado com maturidade é de suma importantancia para condução da vida do ser humano,pos nao somos uma ilha que é isolada de tudo fazemos parte de uma sociedade e temos que agir como seres sociais de fato.

Anônimo disse...

adorei, essa analogia me ajudou bastante em um trabalho.

Anônimo disse...

Muito obrigado, este trabalho ajudou-me a melhorar um meu, muito interessante a sua analogia

Milla disse...

Valeu! Esse assunto é fundamental para ser discutido nos dias de hoje e me ajudou na nota de filosofia