domingo, 12 de agosto de 2007

Perséfone e a Filosofia


Para que Filosofia hoje?

Muitos alunos em minhas aulas, na universidade, me perguntam: afinal de contas por que preciso estudar filosofia, o que ela me dará? Este questionamento, que é quase sempre sincero, me remete a uma outra questão que ja foi feita e respondida por um grande escritor, Italo Calvino: Por que ler os clássicos? Talvez, a adaptação que fiz para o rapto de Perséfone tenha uma resposta, estamos nos tornando seres pragmáticos, e, esperando alguém que nos guie naquilo que demanda reflexão. No entanto, um texto de Pedro Demo, um importante filósofo do nossos dias, certamente ajudará a entender o porquê devemos estudar filosofia, a meu ver.

Falamos hoje de sociedade "intensiva" de conhecimento, primeiro para não incidir na idéia comum e imprópria da "sociedade do conhecimento" (as sociedades humanas desde sempre foram de conhecimento...) organizamos-nos fundamentalmente por parâmetros do conhecimento (saúde, alimentação, moradia, locomoção, transporte, educação, urbanização, trabalho). Um dos horizontes mais típicos é a demanda infinita por aprendizagem nesse tipo de sociedade (...) correspondendo à expectativa já lançada por Marx da mais valia relativa, comandada por ciência e tecnologia (Pedro Demo, Charme da exlusão social. Campinas: Autores Associados, 1998)): o sistema capitalista tende a explorar menos os braços, do que a inteligência do trabalhador. Esta marca, por sua vez, o lado ambíguo do conhecimento: o conhecimento que esclarece, ilumina e questiona (a filosofia, o senso crítico, a reflexão [interferência minha]) é o mesmo que imbeciliza, censura, coloniza.
Pedro Demo. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. 2 ed. Petrópolis, 2004, p. 10)

Quando uma Universidade quer formar seus estudantes apenas para a competitividade gobalizada, então, ela estará preparando seus alunos para serem os explorados intelectualmente, e negando a formação da consciência crítica. Assim sendo, é esperar que os deuses resolvam.

sábado, 30 de junho de 2007

Rapto de perséfone - imagem de Bernini


O Rapto de Perséfone

O Rapto de Perséfone[1]

Perséfone antes de ser a rainha dos subterrâneos era a moça mais bela da terra. Era tão linda que não queria saber de mais nada, somente de sua própria beleza. Certo dia, passeando por entre os trigais dos campos de sua mãe - Ceres deusa da terra e das plantações - foi vista por Hades, deus dos subterrâneos, das riquezas (dos metais) e da mansão dos mortos. Hades ao ver a menina sentiu um vento conhecido. Este vento era Eros, o deus do amor e das paixões que o envolvia completamente. Ele sabia perfeitamente que contra Eros nem mesmo os deuses podiam lutar. O deus dos mortos fora totalmente arrebatado de amores pela filha de Ceres, Perséfone, que mesmo sendo filha da deusa , portanto, imortal, sentiu um arrepio de morte. Era Tânatos, o deus da morte, que passeava junto a ela. Ele quem caminhava quase sempre ao lado de Hades. O poderoso deus dos subterrâneos, tomado de paixão não teve dúvidas: raptou a bela mocinha levando-a consigo na sua carruagem para dentro da terra, aproveitando-se do grande poder que tinha por ser um dos três maiores deuses gregos. A pobre Perséfone, infeliz, nada fez para livrar-se do deus.

Ceres, mãe de Perséfone, ficou desesperada com o rapto de sua filha. Não se conformava com o uso e o abuso do poder exercido por Hades ao levar a menina consigo, porque era ele um dos principais deuses gregos. Sendo ela também uma poderosa deusa usou e abusou do poder que tinha tanto quanto ou mais que ele. Ela, enquanto deusa poderosa, fez com que as plantas não germinassem mais. Fez surgir na terra um árido e terrível deserto. A humanidade, quem mais sofria com esta decisão, nada fez. Sentia cada vez mais perto a presença de Tânatos, soprando um ar pesaroso que arrepiava a pele. Os seres humanos, que a exemplo de Perséfone, pensavam cada um somente em si, iam morrendo de fome, um a um, sem nada fazer, esperando apenas uma decisão dos poderosos para resolver esse impasse.

Tanto Perséfone quanto a humanidade já tinham se conformado com a situação. A menina, em alguns momentos, parecia até gostar de ser a esposa do deus dos mortos, enquanto que alguns seres humanos pareciam gostar de ver morrer seus inimigos, mesmo sabendo que iriam morrer em seguida. Ainda assim, a linda menina sofria muito, longe dos campos e de sua mãe, enquanto a humanidade ia desaparecendo. Por sorte destes conformados é que o impasse resultou em uma disputa e rixa particular entre os dois deuses poderosos, mãe e esposo de Perséfone, que chamou a atenção do mais poderoso dos deuses gregos: Zeus. Zeus resolveu mediar a disputa, pois a humanidade, com quem tanto gostava de brincar, estava sumindo; então, para que isso não acontecesse resolveu agradar aos dois outros deuses: Perséfone iria passar meio ano com Hades, seu esposo, nos subterrâneos, seria a rainha dos mortos e meio ano passaria com a mãe na terra.

Resolvida a questão, Ceres, para mostrar como era poderosa, fez com que as plantas germinassem, na primavera, e dessem frutos, no verão, apenas uma parte do ano, na outra metade, aquele em que sua filha estivesse com o esposo, as plantas secariam, no outono, e dormiriam, no inverno.

Apesar desta decisão política dos poderosos, mediada por Zeus, não ter sido favorável a quem mais sofria com os mandos e desmandos de Hades e Ceres, Perséfone e os seres humanos, tanto a menina quanto a humanidade acataram-na, pois não acreditavam no seu próprio poder e sua própria força, para lutarem contra os poderosos. Eram politicamente analfabetos. Da mesma maneira que conformados esperaram pela decisão dos poderosos por aquilo que os estava fazendo sofrer, agora aceitaram passivamente pela decisão tomada.










[1] Este texto foi adaptado e a ilustração extraída do livro de Edith Hamilton, Mitologias, 1ª ed brasileira. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1992.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Cristo Redentor na Caverna

Não percam o próximo tema, O rapto de Perséfone.

Cristo Redentor

Sobre cavernas.

O jornalista carioca Sérgio Augusto escreveu domingo, 10 de Junho no caderno Aliás, jornal Estado de São Paulo sobre a eleição das sete novas maravilhas modernas uma critica interessante, destaco um trecho: "Fílon escolheu as primeiras sete maravilhas depois de viajar por todo o Ocidente civilizado, no século III a. C. O mínimo que se pode dizer de sua escolha - decorem, crianças: as grande piramide de Queops, os Jardins Suspensos da Babilônia, a estátua de Zeus em Olímpia, o templo de Diana em Éfeso, o mausoléo do rei Mausolo em Halicarnasso, o Colosso de Rodes, o farol da ilha de Faros - é que foi abalizada. A que o canadense (Weber) está formatando (a US$ 2 por voto) tem a mesma idoeidade daqueles concursos de rainha do rádio dos anos cinquenta, quando fãs de Marlene e Emilinha desdobravam-se em mutirões para comprar o maior número de células (impressas na Revista do Rádio) e assegurar o cetro para a sua favorita. A maioria do eleitorado dará preferência ao representante de sua cidade ou de seu país, um tanto por bairrismo, um tanto por ignorância, e outro tanto por mau gosto, mesmo". Sérgio Augusto citará o cineasta João Moreira Salles e Nelson Rodrigues " essa eleição è uma terapia ocupacional para lorpas e pascácios. O jornalista diz ainda que se fosse obrigado a escolher uma maravilha do Rio de Janeiro escolheria o sanduiche de bife de filé acebolado e que para ele o CristoRedentor deveria ganhar õ prêmio como o lugar turístico mais perigoso do mundo.



Meu comentário, sem comentários

terça-feira, 5 de junho de 2007

O Sol

Quem dera um dia conseguíssemos sair das cavernas em que nos fechamos muitas vezes e pudéssemos contemplar e sentir o sol, seja este sol o conhecimento, o amor, a vida real, o Sol mesmo. Na verdade, de preferência, tudo isso junto.

A Alegoria de Platão

A REPÚBLICA - PLATÃO

LIVRO VII


Est. II p. 514a - 515a

Sócrates (personagem de Platão) inicia sua alegoria da caverna:

- AGORA - continuei - representa da seguinte forma o estado de nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens em morada subterrânea, em forma de caverna, que tenha em toda a largura uma entrada aberta para a luz; estes homens aí se encontram desde a infância, com as pernas e o pescoço acorrentados, de sorte que não podem mexer-se nem ver alhures exceto diante deles, pois a corrente os impede de virar a cabeça; a luz lhes vem de um fogo aceso sobre uma eminência, ao longe atrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa um caminho elevado; imagina que, ao longo deste caminho, ergue-se um pequeno muro, semelhante aos tabiques que os exibidores de fantoches erigem á frente deles e por cima dos quais exibem as suas maravilhas[1].


Glauco (jovem ateniense) interlocutor de Sócrates responde:

- Vejo isso - disse ele.

Sócrates:

- Figura, agora, ao longo deste pequeno muro homens a transportar objetos de todo gênero, que ultrapassam o muro, bem como estatuetas de homens e animais de pedra, de madeira e de toda espécie de matéria[2]; naturalmente, entre estes porta­dores, uns falam e outros se calam.

Glauco:

- Eis - exclamou - um estranho quadro e estranhos prisioneiros!
515 a - d

Sócrates:

- Eles (os prisioneiros da caverna) se nos assemelham[3] repliquei mas, primeiro, pensas que em tal situação jamais hajam visto algo de si próprios e de seus vizinhos, afora as sombras projetadas pelo fogo sobre a parede da caverna que está á sua frente?

Glauco:

- E como poderiam? - observou se são forçados a quedar-se a vida toda com a cabeça imóvel?

Sócrates:

- E com os objetos que desfilam, não acontece o mesmo?

Glauco:

Incontestavelmente.

Sócrates :

- Se, portanto, conseguissem conversar entre si não julgas que tomariam por objetos reais as sombras (projetadas) que avistassem[4]?

Glauco:

- Necessariamente.

Socrates:

- E se a parede do fundo da prisão tivesse eco, cada vez que um dos portadores falasse, creriam ouvir algo além da sombra que passasse diante deles?

Glauco:

Não, por Zeus - disse ele.

Sócrates:

- Seguramente - prossegui - tais homens só atribuirão realidade ás sombras dos objetos fabricados.

Glauco:

- É inteiramente necessário.

Sócrates:

- Considera agora o que lhes sobrevirá naturalmente se forem libertos das cadeias e curados da ignorância. Que se separe um desses prisioneiros, que o forcem a levantar-se ime­diatamente, a volver o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos à luz: ao efetuar todos esses movimentos sofrerá, e o ofuscamento o impedirá de distinguir os objetos cuja sombra enxer­gava há pouco. O que achas, pois, que ele responderá se alguém lhe vier dizer que tudo quanto vira até então eram apenas vãos fantasmas, mas que presentemente, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê de maneira mais justa? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas passantes, o obrigar, á força de perguntas, a dizer o que é isso?
515d - 516c
Não crês que ficará embaraçado e que as sombras que via há pouco lhe parecera o mais verdadeiras do que os objetos que ora lhe são mostrados?

Glauco:

- Muito mais verdadeiras - reconheceu ele.

Sócrates:

- E se o forçam a fitar a própria luz, não ficarão os seus olhos feridos? não tirará dela a vista, para retornar ás coisas que pode olhar, e não crerá que estas são realmente mais distintas do que as outras que lhe são mostradas?

Glauco:

- Seguramente.

Sócrates:

- E se - prossegui - o arrancam á força de sua caverna, o compelem a escalar a rude e escarpada encosta e não o soltam antes de arrastá-lo até a luz do sol, não sofrerá ele vivamente e não se queixará destas violências? E quando houver chegado á luz, poderá, com os olhos completamente deslumbrados pelo fulgor, distinguir uma só das coisas que agora chamamos verdadeiras?

Glauco:

- Não poderá - respondeu; - ao menos desde logo.

Sócrates:

- Necessitará, penso, de hábito para ver os objetos da região superior. Primeiro distinguirá mais facilmente as som­bras, depois as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas, a seguir os próprios objetos. Após isso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da lua, con­templar mais facilmente durante a noite os corpos celestes e o céu mesmo, do que durante o dia o sol e sua luz.

Glauco:

- Sem dúvida.

Sócrates:

- Por fim, imagino, há de ser o sol, não suas vãs imagens refletidas nas águas ou em qualquer outro local, mas o próprio sol em seu verdadeiro lugar, que ele poderá ver e contemplar tal como é.

Glauco:

- Necessariamente.

Sócrates:

- Depois disso, há de concluir, a respeito do sol, que este que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é causa de tudo quanto ele via, com os seus companheiros, na caverna[5].
516c - e

Glauco:

- Evidentemente, chegará a esta conclusão.

Sócrates:

- Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que nela se professa e dos que aí foram os[6] seus companheiros de cativeiro, não crês que se rejubilará com a mudança e lastimará estes últimos?

Glauco:

- Sim, decerto.

Sócrates:

- E se eles então se concedessem entre si honras e lou­vores, se outorgassem recompensas àquele que captasse com olhar mais vivo a passagem das sombras, que se recordasse melhor das que costumavam vir em primeiro lugar ou em último, ou caminhar juntas, e que, por isso, fosse o mais hábil em adivinhar o aparecimento delas, pensas que o nosso homem sentiria ciúmes destas distinções e alimentaria inveja dos que, entre os prisioneiros, fossem honrados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero[7] não preferirá mil vezes ser apenas um servente de charrua (arado puxado por animal), a serviço de um pobre lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar ás suas antigas ilusões e viver como vivia?

Glauco:

- Sou de tua opinião - assegurou; - ele preferirá sofrer tudo a viver desta maneira.

Sócrates:

- Imagina ainda que este homem torne a descer á caverna e vá sentar-se em seu antigo lugar: não terá ele os olhos cegados pelas trevas, ao vir subitamente do pleno sol?

Glauco:

- Seguramente sim - disse ele.

Sócrates:

- E se, para julgar estas sombras, tiver de entrar de novo em competições, com os cativos que não abandonaram as correntes, no momento em que ainda está com a vista confusa
517a - de antes que seus olhos se tenham reacostumado (e o hábito á obscuridade exigirá ainda bastante tempo), não provocará riso á própria custa[8] e não dirão eles que, tendo ido para cima, voltou com a vista arruinada, de sorte que não vale mesmo a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar soltá-los e conduzi-los ao alto, e conseguissem eles pegá-lo e matá­-lo, não o matarão[9]?

Glauco:

- Sem dúvida alguma - respondeu.

Sócrates:

- Agora, meu caro Glauco - continuei - cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dissemos mais acima, comparar o mundo que a vista nos revela á morada da prisão e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol. No que se refere á subida á região superior e á contemplação de seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma ao lugar inteligível, não te enganarás sobre o meu pensamento, posto que também desejas conhece-lo. Deus sabe se ele é verdadeiro. Quanto a mim, tal é minha opinião: no mundo inteligível, a idéia do bem é percebida por último e a custo, mas não se pode percebe-la sem concluir que é a causa de tudo quanto há de direito e belo em todas as coisas; que ela engendrou, no mundo visível, a luz e o soberano da luz[10]; que, no mundo inteligível, ela própria é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e que é preciso vê-la para conduzir-se com sabedoria na vida particular e na vida pública.

[1] A propósito desta imagern, v. O estudo de A. Diès: "Guignol
à Athènes" no Bulletin de 1'Ássociation Guillaume Budé 14-15, 1927
[2] Estes objetos sao feitos de matérias diversas, assim como o mundo visível e composto de quatro elementos (Jowett e aampbell).

[3] Comparai com o quadro que Ésquilo traça da vida dos homens primitivos (Prometeu Encadeado v. 447-53, trad. francesa de Paul Mazon): "No começo, eles viam sem ver, escutavam sem ouvir e, semelhantes as formas dos sonhos, viviam a longa existência na desordem e na confusão. Ignoravam as casas de tijolos ensolaradas... viviam debaixo da terra, como as formigas ágeis, no fundo de grutas fechadas ao sol". Só emergiram deste estado de barbárie quando Prometeu lhes ensinou a ciência das estações e, depois, a dos números. Como vemos, para Platão o homem sem educação é comparável ao primitivo.
[4] Seguimos no caso o texto da edição Burnet:
[5] Aristóteles inspirou-se nesta passagem no seguinte fragmento que conhecemos so mente por urna traducao de Cícero (De na~ura Deor.,liv. II, 95): "Praeclere ergo Aristoteles: Si eSSCnt, inquit, qui sub terra semper habitavissent bonis et illustribus dornicilus, quae e5sent ornata signis atque picturis instructaque rebus jis omnibus, quibus abundant u, qui beati putantur, nec tamen exissent unquam supra terram, accepissent autem fama et auditione esse quoddam numen et

[6] Platão tem em mente, por certo, aos estadistas cuja ciência puramente empírica não remonta dos efeitos às verdadeiras causas. Cf. liv. V, 473 c e liv. VI, 488 b.

[7]Odisséia XI, verso 489, já citado no livro III, 386 c.
[8] Cf. Fedon, 249 d; 'Teéteto, 174 c-175 b; Sofista 216 d.

[9] Na boca de Sócrates estas palavras adquirem um sentido profético. Nao é, aliás, o condenado pelos Onze que, no Fedon, de­clara conhecer a arte da adivinhação, como os pássaros de Apolo?
[10] V. livro VI, 506 e

Platão


Parte da pintura de Raphael sobre a escola de Atenas

A Alegoria da Caverna está no libro VII da República e é uma defesa da instrução e contra a ignorância. Até o momento vimos a alegoria modernizadas, atualizadas, vejamos agora como pensou Platão sobre ela.

sábado, 2 de junho de 2007

A Caverna de Platão e Os Dias Atuais


Nos nossos dias muitas são as cavernas em que nos envolvemos, pensamos ser a realidade, e muitas vezes ficamos presos vendo sombras e vivendo como se estas sombras fossem a realidade. Mesmo que um feixe de luz entre, muitas vezes, com medo ou preocupados em perder, ou deixar para trás nossa vidinha cômoda não seguimos ou perseguimos esta luz, não nos interessamos por ela. A televisão, principalmente brasileira, pode ser considerada uma perigosa e preocupante sombra, que muitas vezes afasta o povo brasileiro da realidade da vida verdadeira do sol. Com suas imagens sempre tão coloridas, com sombras sempre tão belas, e cheirosas, ( parece que se diz bombadas) cria em sua tela uma imagem de realidade ora dolorosa ora feliz e assim milhares de pessoas deixam de enfrentar seus problemas, sua realidade muitas vezes mais dolorosa ou mais feliz que aquela que as envolve dia após dia no mesmo horário e no mesmo lugar .

O grupo de rock brasileiro, Titãs, fez há algum tempo atrás uma música sobre a Televisão que é uma interessante reflexão sobre o mito da caverna moderno.

De: Arnaldo Antunes/Marcelo Fromer/Tony Belloto

A televisão

A Televisão me deixou burro muito burro de mais,
agora todas as coisas que eu penso me parecem iguais
O sorvete me deixou gripado pelo resto da vida
E agora toda noite quando deito é boa noite querida

O Cride, fala pra rnãe

Que eu nunca li num livro que um espirro fosse um virus
sem cura
Vê se me entende pelo menos
uma vez criatura!

O Cride, fala pra mãe!

A mãe diz pra eu fazer alguma
coisa, mas eu não faço nada
A luz do sol me incomoda, então
deixo a cortina fechada

E que a televisão me deixou
burro, muito burro demais
E agora vivo dentro dessa
jaula junto dos animais

O Cride, fala pra mãe

Que tudo que a antena captar
meu coração captura
Vê se me entende pelo menos
urna vez, criatura.

O Cride, fala pra mãe!

A mãe diz pra eu fazer alguma
coisa, mas eu não faço nada
A luz do sol me incomoda, então
deixo a cortina fechada
E que a televisão me deixou


burro, muito burro demais
E agora vivo dentro dessa
jaula junto dos animais

O Cride, fala pra mãe

Que tudo que a antena captar
meu coração captura
Vê se me entende pelo menos
uma vez, criatura.

O Cride, fala pra mãe!

Eu não faço nada
Deixo a cortina fechada
Muito burro demais
Muito burro demais



O curta metragem gaucho "O dia que Dorival enfrentou a guarda" é um ótimo exemplo, também, do que acontece quando não se pensa as coisas criticamente. Em uma caserna, uma ordem era seguida fielmente por todos os "guardas" de uma prisão sem que ninguém soubesse, ou questionasse a razão de ser desta ordem - Dorival o preso não podia tomar banho - do soldado raso ao capitão todos proibiram a partir de uma ordem que ninguém sabia muito bem explicar o porquê. Finalmente fica-se sabendo que quem dera esta ordem fora o carcereiro que era o menos graduado de todos, simplesmente porque este não gostava de negros, e o preso era negro.



Na Atenas democrática em que viveu Sócrates e Platão alguns intelectuais chamados de sofistas, que chamaríamos hoje de marketeiros, preparavam ou ensinavam aos jovens da aristocracia ateniense a preparar belos discursos para convencer, persuadir os cidadãos de Atenas para aquilo que desejavam fazer, mesmo que estes discursos nada tinham de verdade. Bem preparados os jovens aristocratas na arte da retórica, da oratória eram eloqüentes e convenciam os cidadãos da assembléia que votavam nas causas postas em disputa por seus interesses.

Assim teria sido a assembléia que condenou o filósofo Sócrates. Denunciado por ser um subversivo e corruptor dos jovens por fazer discursos elogiando a filosofia e criticando de forma negativa a forma como os jovens eram preparados para a guerra e não para a sabedoria, Sócrates fez um discurso que não era belo, segundo ele próprio, mas que trazia a verdade. No entanto, aqueles que denunciaram Sócrates eram sofistas e teriam feito um belo discurso. Por poucos votos no ano de 399 ª C. pela assembléia de heliastas, isto é, juízes que se reuniam no final da tarde o homem mais sábio da Grécia seria condenado ou à morte ou a deixar sua cidade. Como para os gregos de uma forma geral primeiro estava a cidadania depois o indivíduo Sócrates preferiu morrer tomando cicuta. Além do mais, diria ele, se deixasse a cidade negaria todos os meus discursos: - considerando-me culpado, o que não sou, morro, condenado não pela verdade mas pelos belos discursos, que era o que queriam os cidadão que o condenaram.

Platão, que deveria estar presente nesse julgamento, ficou horrorizado com a pouca sabedoria dos homens de Atenas, os não filósofos e passou a desconfiar da democracia, que coloca nas mãos de pessoas que não têm sabedoria suficiente para discernir sobre o que é melhor para sua cidade, afinal envia para morte o homem mais sábio da Grécia, aquele que poderia conduzir Atenas para o mais elevado patamar entre as cidades gregas.

Não é a toa, que, em sua alegoria da caverna que faz parte do livro VII da obra República, a obra de política de Platão a personagem que sai da caverna, isto é, aquele que adquiriu sabedoria sobra a verdade, Sócrates, quando volta para os seus, no sentido de ilumina-los, conduzi-los ao conhecimento, é apedrejado e morre.


Bibliografia

PLATÃO diálogos, seleção de textos de José Américo Motta Pessanha, tradução e notas de José Cavalcante de Souza; 4ª ed., São Paulo : Nova Cultural [coleção pensadores], 1987.
PLATÃO, A República. Introdução e notas de Robert Baccou e tradução de J. Guinsburg; 2ª ed., São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973.

A Alegoria da Caverna de Platão e Os Dias Atuais


O mito da caverna apesar de ter sido desenvolvido por Platão a quase 2500 anos atrás, permanece vivo na memória dos homens do Ocidente. Basta, para confirmar essa idéia, lembrarmos que os criadores do filme Matrix, tão futurista e dos nossos tempos, inspiraram-se neste mito criado pelo filósofo ateniense, discípulo de Sócrates. Seres virtuais vivendo como sombras pensando que na verdade viviam a realidade, que fossem de carne e osso, essa é, se eu não me engano, a idéia do filme, esta é a idéia de Platão.

Platão era um defensor do saber, ou seja, defendia que o homem devia desenvolver a ciência, o conhecimento para transformar a vida e com isso, certamente, a sociedade, em detrimento da crença absoluta nos deuses e nas suas possíveis interferências na vida humana. O filósofo de Atenas pensava, também, que os belos discursos dos políticos feitos para convencer os cidadãos, transformava a cidade de Atenas em uma caverna em que as pessoas ignoravam a verdade sobre as coisas. Platão havia apreendido este saber junto a seu mestre, Sócrates, o primeiro a "ensinar" aos jovens da sociedade grega estas idéias. Sócrates fora condenado à morte por isso. Platão ficou extremamente revoltado com esta condenação e morte de seu mestre, fez um discurso na forma de alegoria para criticar de maneira atroz à sociedade grega da época, mas que, sem dúvidas, pode servir nos dias de hoje para nós refletirmos em torno das nossas vidas e sociedades e suas "bitolas".


O Mito da Caverna

Adaptação: Paulo Romualdo Hernandes

Imaginemos uma caverna. Nesta caverna vive um povo que acredita ser ali o único lugar possível para se viver. De uma pequena abertura entra um feixe de luz que faz com que os homens se vejam e vejam as coisas como sombras. Pensam eles que assim são as coisas, os seus companheiros: sombras circulando, se arrastando, despencando nos buracos, nas fendas, caminhando apertados pelas trilhas estreitas, sem ar, alimentando-se de insetos e animais que também vivem por lá. Vamos imaginar que, certo dia, um destes homens que lá vivia ficou intrigado com o feixe de luz. Apontava-o para seus companheiros mais velhos e perguntava curioso sobre o que seria aquilo, mas ninguém sabia, e o que era pior, ninguém jamais se interessava a saber. Infeliz com a posição dos companheiros, não sossegou até tentar descobrir.

Em um dia, se é que podemos afirmar que na caverna existe dia e noite, mas o certo que depois de algum tempo, o nosso personagem curioso resolveu seguir o feixe de luz para tentar descobrir do que se tratava. Caminhando devagar pelas trilhas estreitas e totalmente estranhas para ele, que jamais tinha saído do lugar em que vivera desde sempre, ofegante de medo e pelo pouco oxigênio existente na caverna, para uma empreitada dessas, seguia ele seu caminho de investigação. O medo aumentava muito a medida que o feixe de luz se tornava mais intenso, e, então, seus olhos, expostos à luz, enxergavam menos devido a intensa claridade a que ele não estava acostumado. Aterrorizado chegou finalmente à entrada da caverna, que para ele parecia ser o fim, os olhos entreabertos doloridos com a luz, o corpo sentindo uma deliciosa sensação de estar totalmente ereto e com muito espaço para andar sem ter que se abaixar, ou segurar em pedras, ou preocupar-se em cair nas fendas e buracos.

Pouco a pouco o nosso personagem curioso habituou-se à luz, abriu os olhos, saiu totalmente da caverna e olhou admirado e emocionado o seu próprio corpo: suas pernas, braços, o movimento que fazia para andar. Olhou para as árvores e para os campos que se abriam à sua frente: cores, formas, brilho totalmente novos para ele. Assistiu emocionado, embora ainda assustado, um maravilhoso pôr do sol, completamente louco, no bom sentido, viu surgir na escuridão da noite, escuridão tão sua conhecida, um lindo feixe de luz, a luz da lua cheia. Não conseguiu dormir, não quis, queria observar tudo, mesmo no escuro. Pôde ver o nascer do sol. Certamente pensou ele, agora que tinha descoberto aquele novo mundo que surgia à sua frente não poderia parar, continuaria seguindo aquele feixe de luz até ao seu último grau, antes, contudo, era preciso voltar à caverna para contar aquelas novidades aos seus companheiros.

Voltou rapidamente para o lugar em que vivera dentro da caverna, uma deliciosa sensação o envolvia, pensava consigo mesmo em que vida não teriam ele e seus companheiros vivendo fora da escuridão daquela caverna, como seriam felizes seguindo de agora em diante todos os feixes de luz que aparecessem. Estariam livres para sempre. Quando chegou junto à seus companheiros inicialmente eles fizeram um festa danada, pois pensavam que tivesse caído em alguma fenda, algum buraco e morrido, final de tantos outros companheiros. A festa era uma estranha festas de sombras se abraçando. Quando tudo passou e todos estavam prontos para suas vidas rotineiras ele quis contar todas as novidades que vira fora daquele mundinho, empolgado. Quando, no entanto, contou o que vira e descobrira, e quis convencer os outros a irem com ele, em direção ao feixe de luz, estes se revoltaram o apedrejaram jogando-o na maior fenda conhecida.

Questões sobre o texto: Reflita e faça seus comentários.

1- Nos nossos dias existem cavernas, não exatamente iguais a estas que o texto de forma metafórica apresenta. Reflita através do texto e cite algumas cavernas da vida atual. Explique por que são cavernas?
2- Se você citou cavernas dos nossos dias, qual seria o feixe de luz que por ela entraria?
3- Se você pensa que nos nossos dias existem cavernas, explique porque existem pessoas vivendo dentro de caverna, ou cavernas e que não se importam com isto, não se questionam?
4- Quem teria curiosidade de investigar o feixe de luz?
5- É possível nos dias atuais alguém se emocionar com alguma descoberta, como aconteceu com a personagem, quando saiu da caverna?
6- Por que a personagem voltou para contar aos outros a sua descoberta?
7- Por que os outros depois de ouvirem o que ele tinha a contar o mataram?
8- Qual é a relação que existe entre o mito da caverna e a condenação de Sócrates?

A Filosofia II


A Filosofia, no entanto, não tem uma visão fechada em si
mesma, como pode parecer admirando-se o "Pensador" de Auguste Rodin, ela reflete sobre a realidade, justamente para se colocar, como o homem vitruviano de Leonardo da Vinci, totalmente consciente sobre tudo e todas as coisas.

A Filosofia






A Filosofia tem um caráter de reflexão, o pensador de Rodin, famoso escultor francês, demonstra também que para filosofar é preciso concentrar-se.