sábado, 2 de junho de 2007

A Alegoria da Caverna de Platão e Os Dias Atuais


O mito da caverna apesar de ter sido desenvolvido por Platão a quase 2500 anos atrás, permanece vivo na memória dos homens do Ocidente. Basta, para confirmar essa idéia, lembrarmos que os criadores do filme Matrix, tão futurista e dos nossos tempos, inspiraram-se neste mito criado pelo filósofo ateniense, discípulo de Sócrates. Seres virtuais vivendo como sombras pensando que na verdade viviam a realidade, que fossem de carne e osso, essa é, se eu não me engano, a idéia do filme, esta é a idéia de Platão.

Platão era um defensor do saber, ou seja, defendia que o homem devia desenvolver a ciência, o conhecimento para transformar a vida e com isso, certamente, a sociedade, em detrimento da crença absoluta nos deuses e nas suas possíveis interferências na vida humana. O filósofo de Atenas pensava, também, que os belos discursos dos políticos feitos para convencer os cidadãos, transformava a cidade de Atenas em uma caverna em que as pessoas ignoravam a verdade sobre as coisas. Platão havia apreendido este saber junto a seu mestre, Sócrates, o primeiro a "ensinar" aos jovens da sociedade grega estas idéias. Sócrates fora condenado à morte por isso. Platão ficou extremamente revoltado com esta condenação e morte de seu mestre, fez um discurso na forma de alegoria para criticar de maneira atroz à sociedade grega da época, mas que, sem dúvidas, pode servir nos dias de hoje para nós refletirmos em torno das nossas vidas e sociedades e suas "bitolas".


O Mito da Caverna

Adaptação: Paulo Romualdo Hernandes

Imaginemos uma caverna. Nesta caverna vive um povo que acredita ser ali o único lugar possível para se viver. De uma pequena abertura entra um feixe de luz que faz com que os homens se vejam e vejam as coisas como sombras. Pensam eles que assim são as coisas, os seus companheiros: sombras circulando, se arrastando, despencando nos buracos, nas fendas, caminhando apertados pelas trilhas estreitas, sem ar, alimentando-se de insetos e animais que também vivem por lá. Vamos imaginar que, certo dia, um destes homens que lá vivia ficou intrigado com o feixe de luz. Apontava-o para seus companheiros mais velhos e perguntava curioso sobre o que seria aquilo, mas ninguém sabia, e o que era pior, ninguém jamais se interessava a saber. Infeliz com a posição dos companheiros, não sossegou até tentar descobrir.

Em um dia, se é que podemos afirmar que na caverna existe dia e noite, mas o certo que depois de algum tempo, o nosso personagem curioso resolveu seguir o feixe de luz para tentar descobrir do que se tratava. Caminhando devagar pelas trilhas estreitas e totalmente estranhas para ele, que jamais tinha saído do lugar em que vivera desde sempre, ofegante de medo e pelo pouco oxigênio existente na caverna, para uma empreitada dessas, seguia ele seu caminho de investigação. O medo aumentava muito a medida que o feixe de luz se tornava mais intenso, e, então, seus olhos, expostos à luz, enxergavam menos devido a intensa claridade a que ele não estava acostumado. Aterrorizado chegou finalmente à entrada da caverna, que para ele parecia ser o fim, os olhos entreabertos doloridos com a luz, o corpo sentindo uma deliciosa sensação de estar totalmente ereto e com muito espaço para andar sem ter que se abaixar, ou segurar em pedras, ou preocupar-se em cair nas fendas e buracos.

Pouco a pouco o nosso personagem curioso habituou-se à luz, abriu os olhos, saiu totalmente da caverna e olhou admirado e emocionado o seu próprio corpo: suas pernas, braços, o movimento que fazia para andar. Olhou para as árvores e para os campos que se abriam à sua frente: cores, formas, brilho totalmente novos para ele. Assistiu emocionado, embora ainda assustado, um maravilhoso pôr do sol, completamente louco, no bom sentido, viu surgir na escuridão da noite, escuridão tão sua conhecida, um lindo feixe de luz, a luz da lua cheia. Não conseguiu dormir, não quis, queria observar tudo, mesmo no escuro. Pôde ver o nascer do sol. Certamente pensou ele, agora que tinha descoberto aquele novo mundo que surgia à sua frente não poderia parar, continuaria seguindo aquele feixe de luz até ao seu último grau, antes, contudo, era preciso voltar à caverna para contar aquelas novidades aos seus companheiros.

Voltou rapidamente para o lugar em que vivera dentro da caverna, uma deliciosa sensação o envolvia, pensava consigo mesmo em que vida não teriam ele e seus companheiros vivendo fora da escuridão daquela caverna, como seriam felizes seguindo de agora em diante todos os feixes de luz que aparecessem. Estariam livres para sempre. Quando chegou junto à seus companheiros inicialmente eles fizeram um festa danada, pois pensavam que tivesse caído em alguma fenda, algum buraco e morrido, final de tantos outros companheiros. A festa era uma estranha festas de sombras se abraçando. Quando tudo passou e todos estavam prontos para suas vidas rotineiras ele quis contar todas as novidades que vira fora daquele mundinho, empolgado. Quando, no entanto, contou o que vira e descobrira, e quis convencer os outros a irem com ele, em direção ao feixe de luz, estes se revoltaram o apedrejaram jogando-o na maior fenda conhecida.

Questões sobre o texto: Reflita e faça seus comentários.

1- Nos nossos dias existem cavernas, não exatamente iguais a estas que o texto de forma metafórica apresenta. Reflita através do texto e cite algumas cavernas da vida atual. Explique por que são cavernas?
2- Se você citou cavernas dos nossos dias, qual seria o feixe de luz que por ela entraria?
3- Se você pensa que nos nossos dias existem cavernas, explique porque existem pessoas vivendo dentro de caverna, ou cavernas e que não se importam com isto, não se questionam?
4- Quem teria curiosidade de investigar o feixe de luz?
5- É possível nos dias atuais alguém se emocionar com alguma descoberta, como aconteceu com a personagem, quando saiu da caverna?
6- Por que a personagem voltou para contar aos outros a sua descoberta?
7- Por que os outros depois de ouvirem o que ele tinha a contar o mataram?
8- Qual é a relação que existe entre o mito da caverna e a condenação de Sócrates?

5 comentários:

Anna disse...

Apesar de não estudar filosofia, tenho uma visão particular sobre a questão. Acho que cada vez mais estamos no entranhando carverna a dentro, o marketing que como você me explicou substituiu os sofistas, é tão poderoso e se utiliza de todos os meios com que as informações chegam a nós nos dias de hoje, que cada vez fica mais difícil identificar o facho de luz.
Estamos quase todos presos em falsas necessidades, trabalhando como escravos, só que por opção. Acontece que reconhecer que a nossa realidade está toda manipulada, exige muito trabalho. Olhar para o mundo com "senso crítico" é destruir nossa realidade e ter que aprender a conviver com um mundo que não conhecemos, e onde se está totalmente sozinho.
Mas, se com medo de permanecer sozinho você voltar, não poderá convercer ninguém a ter o trabalho que você teve. Se soltar das amarras que você, que desde o início foi marionete sempre se prendeu, e ter liberdade para controlar seus movimentos é assustador, por que ninguém nunca te contou como fazer isso. A partir daí você terá que decidir o que é certo, o que é real, só que sem ter quem te acompanhe, sem ter parâmentros para te ajudar.
Acho que é companhia que os habitantes da caverna se fazem, uma massa que tem os mesmos desejos e gostos, as mesmas necessidades inventadas, que os mantém para sempre presos lá.

Mancini Hernandes disse...

O interessante, para mim, sobre a filosofia Anna, é que, talvez diferente de outras formas de reflexão, ela é uma intensa busca de conhecimento, de debater as idéias. Um amor ao saber. Para Platão, amar no sentido de uma interminável busca pelo amante, pela Sabedoria, que nos completa e nos fará, um dia quem sabe, alcançar um mundo ideal, perfeito. Tenho minhas desconfianças quanto há um dia alcancar o mundo perfeito, mas não tenho dúvidas que prefiro muito estar aqui debatendo, refletindo com você as idéias de Platão, Sócrates e tantos outros a estar sentado frente a uma televisão, rindo ou chorando com os melodramas enquanto a realidade chora e ri para fora da janela.

Mancini Hernandes disse...

continuando...realmente é muito difícil nos livramos das amarras que nos mantém presos às ilusões, fabricadas ou aquelas que queremos acreditar e que nos faz muitas vezes relaxar. Mas...O filme Matrix inicia nos fazendo acreditar que é uma critica, tal qual a de Platão, quanto a alienação, avida em um mundo virtual. No entanto, termina com a personagem principal, Neo, morrendo como se estivesse em uma cruz, para livrar o mundo das máquinas que vêm dos subterrâneos, dos desertos. Seria, por fim, a velha briga do bem, cristão, ocidental...contra o mal, os homens do deserto, do oriente?

Stª Scarllet disse...

No caso do filme Matrix,ao meu ver, o "filósofo" (o produtor) se libertou e acabou voltando à caverna, ele deixou-se seduzir pelas ilusões tecológicas. Quis impressionar, inicialmente, pelo contexto e depois amarrou ou espectadores aos grilhos do costume,por sua vez acostumados a verem certos finais, um final diferente talvez não tivesse uma "boa crítica", por não ser compreendido, ao invés do final semelhante ao de uma história há mais ou menos 2000 anos conhecida.
Vejo, atualmente, não a figura dos que saem das cavernas e tentam libertar os demais agrilhonados, mas homens que quando saem das trevas retornam a ela, pelo medo de conhecer... algo que não se faz tão anormal, pois, já q não se conhece, quem o dirá que o que vê de novo, nada mais é que uma peça imposta pela própria mente?
O conhecimento é tão sedutor e lindo, quanto perigoso. Embora eu prefira me arriscar nele.

Anônimo disse...

Eu Queria as respostas dos exercícios.